Arquivo Público do Rio digitaliza seu acervo e registra aumento da procura: 65,2% a mais de 2008 para 2009

 

Por Ediane Merola

 

O acervo do Arquivo Público do Estado, se organizado em linha reta, se estende por 4km. São textos, mapas, plantas, fotografias, filmes, fitas de áudio e vídeo e microfilmes que contam a história da sociedade fluminense e conduzem por um caminho que leva ao conhecimento de fatos marcantes, ocorridos desde o tempo da Presidência da Província, no século 18. Facilitar o acesso a esses documentos tem sido uma meta da instituição, que nos últimos anos investiu na restauração e digitalização do material e, cada vez mais, atrai o público: no ano passado, o Arquivo Público registrou 4.075 solicitações, um aumento de 65,2% na demanda, em relação a 2008.

 

Todo o material está disponível para consulta

 

Localizado na Praia de Botafogo 480, o Arquivo guarda preciosidades como o cartaz da campanha para deputado federal do escritor Jorge Amado, de 1947. Nas prateleiras também estão grande parte da documentação da polícia política do estado, como a do Departamento da Ordem Política e Social (Dops), além de papéis do período da escravidão. Outra joia do acervo é um álbum com cem fotos retratando a construção do Porto do Rio, cujo centenário de fundação é comemorado este ano. O material, que está sendo devidamente tratado e digitalizado, deverá ser transformado em livro e, no momento, aguarda aprovação do projeto para captar recursos através da Lei Rouanet.

— Isso é uma joia. Em todo o país há somente três álbuns com imagens da construção do Porto, cada um deles com fotos diferentes. Os outros dois estão nos arquivos do Senado e da Companhia Docas — disse Paulo Knauss, diretor geral do Arquivo Público.

Todo o material guardado na instituição está disponível para consulta, por meio de agendamento, de segunda à sexta-feira, das 9h às 17h. Os interessados têm que se cadastrar e, dependo do tipo de documento solicitado, é necessário fundamentar o pedido. Isso ocorre, por exemplo, em casos de documentos que contêm informações pessoais. No site estão todas as informações do acervo (www.aperj.rj.gov.br).

Professor de história aposentado, Emir Amed não teve dificuldades para obter os papéis de que precisava, para provar que foi preso político em 1964 e 1970 e dar entrada no seu pedido de anistia política.

— Fui pedir meu habeas data, que é um currículo com todo o histórico sobre o período em que fui perseguido e preso.Em 1970, fui pego sob alegação de fazer parte da Aliança Libertadora Nacional (ALN), mas não provaram nada. Nessa ocasião aplicaram em mim as piores técnicas de tortura — diz Emir, de 80 anos, que encontrou farto material no Arquivo Público. — Até detalhes das minhas aulas foram registrados.Havia agentes infiltrados na sala de aula. O Arquivo é muito importante para resgatar esta história.

O acervo de polícia política, por sinal, é o mais consultado na instituição: das 4.075 solicitações feitas no ano passado, 1.796 foram voltadas para este tema. Em segundo lugar estão livros apreendidos (666 registros), seguido do Fundo da Presidência de Província (507), que guarda o documento mais antigo do Arquivo: um livro cartorial, de 1715 e 1719, com registros diversos e sem título. Apesar de ter sido produzido no período anterior ao da província, foi assimilado por este fundo.

Presidente da OAB-RJ, Wadih Damous já esteve no Arquivo e destaca a importância histórica da instituição: — Quando começamos a campanha de abertura dos arquivos em relação aos desaparecidos políticos, recebemos o convite da direção do Arquivo Público do Estado, visitamos os setores de polícia política. Mas os arquivos militares, por exemplo, não estão lá. Os militares dizem que foram queimados. Quem sabe um dia uma família descobre esse material guardado e entrega para o estado? O Arquivo Público talvez seja o principal instrumento de pesquisa histórica.

 

Acervo de ex-militante é doado para o Arquivo Público

 

O Arquivo Público do Estado recebeu este mês o acervo da Vera Silvia Magalhães (1948-2008), que foi a única mulher do grupo de guerrilheiros do MR-8 que, em 1969, sequestrou o embaixador americano Charles Burke Elbrick. Seus documentos foram organizados por um grupo de amigos e doados por parentes à instituição.

 

O arquivo de Vera engloba registros de sua vida, como fotos, estudos, anotações e entrevistas, além de cerca de 250 reportagens de revistas e jornais. Militante desde jovem contra a ditadura, Vera foi presa e torturada. Banida, viveu muitos anos no exílio. Entre suas atividades no Brasil, foi professora.

 

O Arquivo Público do Estado vai ganhar uma nova sede no Centro, com previsão de inauguração em 2013. Além do acervo atual, que está em Botafogo, é para lá que vai todo o material guardado em 115 órgãos estaduais. O prédio, na Rua Joaquim Palhares, poderá acomodar 25km de documentos. Nos dez anos seguintes, um edifício anexo será erguido, aumentando a capacidade total para 44km.

 

FONTE: O Globo, 29 de agosto de 2010

 

Fotogaleria (veja fotos marcantes da história do Rio):

 

http://oglobo.globo.com/rio/fotogaleria/2010/12455/

By AAERJ

One thought on “O que sai do baú e cai nas graças do povo”

Comments are closed.